Quando pensamos no desenvolvimento de Belo Horizonte, é comum relacionar sua criação ao final do século XIX, ao planejamento urbano moderno e à transferência da capital de Ouro Preto para a recém-inaugurada Cidade de Minas. No entanto, as raízes que possibilitaram esse acontecimento remontam a quase duzentos anos antes, no período da Guerra dos Emboabas (1707–1709). Embora o conflito não tenha ocorrido diretamente onde hoje está a capital mineira, ele definiu a organização política e administrativa da região que, no futuro, se tornaria o território perfeito para uma capital planejada.
Um conflito que redesenhou Minas Gerais
No final do século XVII, os primeiros achados de ouro em Sabará — área hoje integrante da Região Metropolitana de Belo Horizonte — transformaram a paisagem social da colônia. Bandeirantes paulistas reivindicavam exclusividade na exploração, mas a chegada em massa de forasteiros, os “emboabas”, desencadeou tensões que culminaram em uma guerra civil. Os confrontos se concentraram em vilas como Sabará e Caeté, muito próximas do antigo Arraial do Curral Del Rei.
O saldo imediato do conflito foi decisivo: a Coroa Portuguesa interveio e estabeleceu controle direto sobre a região, criando a Capitania de Minas Gerais, separada de São Paulo. O novo arranjo político instituiu vilas, ordenou o território e impôs um sistema administrativo capaz de sustentar o ciclo do ouro e, mais tarde, estruturar o povoamento regional.
Curral Del Rei: origem discreta, papel estratégico
Enquanto a guerra se desenrolava nas áreas mineradoras, o Arraial do Curral Del Rei desenvolvia-se como um importante ponto de apoio. Sua economia ligada à pecuária e ao abastecimento consolidou a ocupação do território, inserindo o arraial na lógica administrativa que emergia após o conflito.
Ao longo do século XVIII, a região se estabilizou, cresceu e passou a integrar uma malha de povoados essenciais ao funcionamento da capitania. Sem esse processo político e territorial desencadeado pelos Emboabas, não haveria o ambiente adequado para, no século XIX, discutir a construção de uma capital moderna e centralizada.
Da guerra à modernidade: o caminho até Belo Horizonte
A Proclamação da República, em 1889, reacendeu debates sobre a necessidade de uma nova capital mineira. Ouro Preto, apesar de histórica, não oferecia condições para expansão urbana. A solução foi planejar uma cidade do zero. Em 1897, Belo Horizonte foi inaugurada como a primeira capital moderna do Brasil, resultado de um processo longo que teve início justamente com a reorganização territorial promovida após a Guerra dos Emboabas.
Por que isso importa para quem visita Minas Gerais?
Compreender esse encadeamento histórico permite ao visitante perceber que Minas não foi apenas moldada pelo ouro, mas por decisões políticas e disputas territoriais que definiram o espaço onde hoje vivem milhões de pessoas. A história de Belo Horizonte começa muito antes de sua fundação, e entender essa trajetória amplia o olhar de quem explora suas ruas, museus e bairros tradicionais.
A Henrik Tour integra esse contexto nos roteiros e explicações durante visitas guiadas, oferecendo ao visitante uma visão completa da formação das cidades mineiras e do papel que episódios como a Guerra dos Emboabas tiveram na construção da identidade do Estado.